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As 30 portas de armário que podem não ser suficientes

Sempre me preocupei com o meio ambiente e o impacto das minhas ações no planeta, mas de fato nunca consegui por em prática tudo o que gostaria de fazer nem no campo profissional e nem no campo pessoal (até hoje não faço ideia de como se cuida de uma horta ou faz compostagem de um minhocário, por mais imagens no Pinterest que eu tenha salvo rsrs) e aí veio a mudança da Bahia para o Ceará... e quando estamos vivendo uma vida no automático e alguma mudança do tipo acontece nossos questionamentos sobre a vida ficam mais latentes e nossas ações podem se aproximar e se alinhar cada vez mais com o modo que pensamos. Me mudei há três meses e até hoje tem várias caixas espalhadas pela casa, muitas roupas que não consegui me desfazer, muitos apetrechos esperando ser doados, reciclados ou descartados. Tudo acumulado em caixas que fizeram uma viagem interestadual apenas esperando a hora de serem rejeitados. E o que isso tem a ver com arquitetura e sustentabilidade? Tudo! Afinal o acúmulo de coisas faz com que a gente precise de mais armários, mais móveis planejados, mais espaço, mais organizadores, dentre outros recursos que na verdade são insumos retirados do planeta e que poderia ser usado para outros fins ficando estagnados para juntar um monte de coisas que sequer teremos tempo de usar.


Já aqui no Ceará, estava passando por uma loja e vi de longe um livro por R$9,90, fininho e com uma capa bem atraente com o título “A mágica da arrumação” de Marie Kondo. E para uma bagunceira de carteirinha, cheia de caixas para arrumar, trazê-lo para casa foi inevitável. O livro só fez endossar o pensamento que já estava dentro de mim: Precisamos de tantas coisas? Não seríamos mais felizes dedicando tempo para o que de fato nos preenche de amor? - A autora é irredutível na questão do desapego, afinal ela prega que a arrumação definitiva só irá acontecer quando estivermos rodeados apenas de coisas que verdadeiramente nos fazem feliz. E foi possível de enxergar também que muitas pessoas passam por esse processo de desapego.


Com este raciocínio impregnando-se em mim e com o pensamento de uma arquitetura de fato integrada ao meio ambiente, me deparei recentemente com uma postagem no instagram de um projeto de uns arquitetos amigos meus que admiro demais a qualidade do trabalho deles e que me incomodou profundamente. Mexeu com as vísceras! E quando isso acontece, precisamos por para fora, escrever, desenhar etc. e foi aí que senti a necessidade de escrever este texto. O post dizia: “(...) closet tem o equivalente a 30 portas de armário (...)” . Os comentários eram sempre de elogios, e acompanhados de “Nossa, que sonho!” e dentro de mim um rebuliço só, pois estou remando justamente para o lado oposto a isso.


Penso que quando não compreendemos a essência do que realmente pode fazer a cada um de nós felizes, é possível que 30 armários não seja suficiente para preencher algumas lacunas existenciais. Não cabe a mim julgar, mas sim questionar e tentar levar esta reflexão a mais pessoas. A evolução é um processo e no papel de arquiteta quero todos os meus clientes plenamente satisfeitos, sei que se eles se enxergam na necessidade de ter tanto espaço para acumular roupas tentarei atender da melhor forma possível, assim como fizeram os meus colegas, mas não posso deixar de apoiar a ideia de que podemos viver melhor sem impactar tanto o meio ambiente e sem acumular tantas coisas que não nos fazem bem. No guarda-roupa. No quarto. Na vida.


Para saber mais:

Documentário The Minimalist aqui

Livro Marie Kondo

Armário Cápsula no Blog We Fashion Trands

Tem algo a dizer? Deixa um comentário aqui em baixo ou manda um e-mail para mim.

Até breve :)

Joana R. P.

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